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Inclusão do público autista ainda é desafio no mercado de trabalho

A inclusão da população autista mercado de trabalho é garantida pela mesma legislação que determina a participação mínima para pessoas com qualquer deficiência.

Abril é reconhecido como o mês de conscientização do autismo. A inclusão da população autista mercado de trabalho é garantida pela mesma legislação que determina a participação mínima para pessoas com qualquer deficiência.

Entretanto, a presença de pessoas autistas nas empresas continua a ser um desafio significativo para o mercado. Enquanto avanços têm sido feitos em termos de conscientização e políticas de inclusão, ainda há muito a ser feito para garantir um ambiente de trabalho verdadeiramente acolhedor, acessível e planejado, que se apoia na diversidade, para atender com equidade as pessoas que têm o diagnóstico, para que assim elas possam desempenhar, da melhor maneira suas funções.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficit na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades, salientando que essas características podem ser diferenciadas entre os indivíduos com TEA.

Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade. A prevalência é maior no sexo masculino.

Segundo dados do IBGE, atualmente, 85% dos autistas brasileiros estão fora do mercado de trabalho. Muito além de “se mostrarem” inclusivas, as empresas devem praticar a inclusão em seu sentido amplo, certificando-se de que o colaborador autista tem, de fato, atribuições e ambiente adequados para exercer sua atividade com sucesso. A pedagoga Eliane Maria Freitas Monken, docente do curso de Pedagogia no UniBH, destaca os principais pilares para a inclusão plena do autista no universo corporativo.

“Um dos melhores caminhos para a inclusão é não focar no transtorno e sim na pessoa, conhecendo suas competências para além da ótica do autismo. Desta forma, as ações que ela passa a exercer na empresa estarão em consonância com as habilidades apresentadas. Lembrando que não se trata de apenas integrar a pessoa, porque esta é uma obrigação legal, mas dar condições reais para que ela mostre os seus talentos junto ao time. A equidade precisa ser constatada ao longo dos projetos construídos pela empresa”, destaca.

Inclusão por lei

A lei 12.764 de 27 de dezembro de 2012 (conhecida como lei Berenice Piana) instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa TEA. Sua inserção no mercado de trabalho também é garantida pela lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (lei 8.213/91). A legislação determina as proporções para empregar pessoas com deficiência, que variam de acordo com a quantidade de funcionários (de 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%; de 201 a 500, de 3%; de 501 a 1.000, de 4%).

As empresas com mais de 1.001 empregados devem reservar 5% das vagas para esse grupo e a contratação de empregados com TEA é opcional àquelas empresas que possuem quadros com menos de 100 colaboradores. As multas para instituições que descumprirem a legislação podem chegar a R$ 228 mil.

Preparo faz a diferença

De acordo com a professora, dentre as primeiras providências das lideranças deve estar a preparação da equipe para receber o novo profissional: “O conhecimento é a primeira chave para a inclusão da pessoa com TEA, pois ao passo que se compreende com afinco seu conceito, as características e como lidar com estas especificidades, a equipe estará preparada para receber e acolher este sujeito de direito. Nesse sentido, a formação continuada se torna imprescindível para a busca da qualidade da equipe”, conta.

Pesquisas mais recentes mostram que, geralmente, as principais habilidades dos autistas – e que podem ser aplicadas ao ambiente corporativo – são:

  • Foco e concentração;
  • Lidar com questões lógicas e matemáticas;
  • Inclinações para serviços visuais;
  • Maior disposição às atividades repetitivas e metódicas, que possam manter uma rotina diária;
  • Trabalhos que envolvam regras, padrões e conceitos muito bem definidos;
  • Habilidade de lembrar fatos a longo prazo;
  • Memória, criatividade e atenção aos detalhes.

Eliane ainda destaca que cada sujeito é único e traz em si suas emoções, seus talentos, suas formas de enxergar o mundo: “o entendimento das características do autismo é essencial para que as empresas possam criar ambientes inclusivos. Por exemplo, para alguns autistas, certos tipos de estímulos sensoriais podem ser avassaladores, enquanto para outros, rotinas rígidas e previsíveis são essenciais. Ao reconhecer e acomodar essas diferenças, as empresas podem não apenas atrair talentos autistas, mas também promover um ambiente de trabalho mais diversificado e inclusivo para todos os funcionários”, diz.

Ela pontua, ainda, que é fundamental que as organizações não deixem de lado treinamentos para que não só líderes e RHs, mas o time de trabalho como um todo, tenham papel ativo na promoção de práticas genuinamente inclusivas.

“É importante que as empresas invistam em programas de conscientização e treinamento para seus funcionários, a fim de promover uma cultura organizacional que valorize a diversidade e a inclusão. Isso não apenas ajuda a combater estigmas e preconceitos, mas também promove a compreensão mútua e a colaboração entre colegas de trabalho de diferentes origens e habilidades”, salienta.

Neurodiversidade alavanca resultados

O relatório “A diversidade vence: como a inclusão é importante”, produzido pela McKinsey em 2020, demonstra que as equipes neurodivergentes superam as homogêneas em 36%, em termos de rentabilidade. “Integrar profissionais neurodivergentes é uma forma de trazer novas visões, inovações e alavancar o negócio”, ressalta o CEO da Otimiza Benefícios, Anderson Belem.

Diagnosticado com TDAH e Altas Habilidades/SD Criativo Produtivo apenas aos 40 anos, Belem sentiu na pele o que é, segundo ele, “ser diferente”. “Trilhei um caminho repleto de mal-entendidos e oportunidades perdidas até a fundação da minha empresa, que nasceu justamente dessa visão diferenciada das coisas e levou à reengenharia no modelo de benefício do vale-transporte, poupando milhões de recursos que eram desperdiçados anualmente”, conta.

Atualmente, aproximadamente 15% da população mundial é classificada como neurodivergente. “É preciso desmistificar a neurodivergência no mercado de trabalho e apresentar os benefícios da pluralidade e diversidade acima de tudo. A verdadeira superação reside em aceitar nossas singularidades e entender que a inovação nasce da diversidade”, finaliza Belem.

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