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Após expansão de 2010, inflação e aperto este ano

Com a desaceleração da economia, ex-presidente do BC acha que trabalhador pode vir a pagar a conta

O crescimento recorde da economia em 2010 - que, segundo analistas, foi num ritmo acima do sustentável para o país - deixará para este ano um cenário de inflação em alta, aumento de juros, aperto no crédito e mercado de trabalho menos pujante. Economistas calculam que, depois de avançar 7,5% no ano passado, o PIB crescerá, no máximo, 4,5% em 2011. 

A conta da desaceleração será paga principalmente pelos trabalhadores, afirmou o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC). Segundo ele, a política mais restritiva da instituição, de subida de juros, encarece o crédito e trava o consumo, o que, por sua vez, inibe os investimentos. 

- Isso certamente chegará ao mercado de trabalho, que deverá criar menos vagas - disse o ex-diretor do BC, que hoje está à frente da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 

Além disso, a inflação em alta corrói os ganhos do trabalhador. Nos últimos 12 meses até janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula variação acima de 6%. 

Na opinião do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a inflação é uma ameaça real que ganha força num cenário de commodities em alta e sujeito a uma crise por conta da tensão no mundo árabe. 

Não por acaso, o BC elevou anteontem a taxa básica de juros Selic pela segunda vez em 2011, para 11,75% ao ano. E o governo anunciou recentemente um corte de gastos de R$50 bilhões. 

O crescimento menor este ano pode ser uma herança do governo Lula. Na avaliação de Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, houve um excesso de aumento de gastos do governo, que teria demorado muito para elevar os juros básicos da economia. 

- O país vai crescer, porém, menos - disse. 

Na opinião do secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, todos os governos, independentemente da linha política, aumentam investimentos e despesas correntes em ano eleitoral. Isso, para ele, explica em parte o crescimento do PIB. 

Agora, a maior preocupação dos analistas é com a alta dos preços este ano. 

- A inflação é a maior ameaça à expansão do PIB em 2011. Quanto mais o governo demora para agir, maior será a necessidade de aumentar os juros - afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. - O governo está montando um cenário de crescimento baixo para os próximos dois anos. Ou aceita crescer menos para controlar os preços ou Dilma Rousseff será lembrada como a presidente que teve a inflação sistematicamente acima da meta. 

O cenário traçado por Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, combina inflação em alta e PIB em baixa. Ele lembra que o reajuste menor do salário mínimo já é uma tentativa de conter o consumo. 

- Há este, ano uma queda real no poder de compra dos brasileiros. Mas o desemprego não deve sair dos 6,1% - disse Velho, que projeta um crescimento de 4,1% em 2011.

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