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Autopeça sofre com inadimplência

Importadores dos EUA não retiram mercadorias e empresas brasileiras arcam com multa e armazenamento de peças

Cleide Silva

 

 
Um dos setores mais afetados pela inadimplência dos clientes externos é o de autopeças, que já assistiu às suas exportações caírem 34% - de US$ 3,78 bilhões no primeiro quadrimestre de 2008 para US$ 2,49 bilhões este ano. As empresas estão deixando de pagar ou atrasando o pagamento de financiamentos feitos sob a forma de ACCs (Adiantamento sobre Contratos de Câmbio).

A dificuldade maior em honrar contratos vem de clientes dos Estados Unidos e Europa, onde estão as matrizes das principais montadoras e de seus fornecedores, assim como do México e da Argentina.

"Muitas empresas estão arcando com multas por inadimplência e ainda por cima são obrigadas a bancar o armazenamento de peças lá fora", informa Paulo Butori, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Empresas consultadas pelo Estado confirmaram o problema, mas pediram para não ter os nomes divulgados por temerem complicações com empréstimos futuros.

O ACC permite ao exportador obter recursos financeiros antes do embarque da mercadoria a taxas de juros internacionais mais um spread. O tomador conta antecipadamente com recursos para a produção do bem. Após o envio da mercadoria, tem 180 dias para apresentar a comprovação da exportação. O comprador ressarce o próprio banco que fez a operação, mas, quando isso não ocorre, o exportador é multado.

Segundo Butori, normalmente as empresas enviam encomendas para os clientes e as mantêm em galpões até a retirada pelo comprador. O sistema sempre funcionou nos momentos de produção normal da indústria, evitando falta de peças.

"Recentemente, porém, várias empresas enviaram pedidos e, diante da queda da produção, o cliente não retirou do armazém", explica Butori. Como o importador não assinou nota de entrega, a exportação não foi confirmada e o exportador não tem como comprovar o processo junto ao banco.

Uma fabricante de São Paulo informa que, desde o início do ano, gasta mensalmente cerca de US$ 25 mil só com o pagamento de armazenagem de peças que enviou a um cliente na Europa que não retirou os lotes.

"Não posso trazer as peças de volta ou tentar vender para outro cliente porque foram feitas especialmente para um tipo de carro", explica o exportador, que tem o mercado externo como grande provedor de seu faturamento. Ele pediu para preservar também o nome do cliente.

MULTAS

A Elring Klinger, que produz juntas de cabeçote e defletores de calor em Piracicaba (SP), pediu ao banco credor um adiamento de mais três meses para o prazo de comprovação da exportação. Hans Eckert, diretor da empresa, diz que tem conseguido fazer acordos com os clientes para parcelar entregas. "Não podemos tirar água de pedra." A empresa já exportou 25% de sua produção, participação que caiu a 15%.

Outro exportador conta que banca um lote de peças exportadas para os EUA, um contrato estimado em US$ 1 milhão. Custos com transporte, seguro e armazenagem já corroeram pelo menos 10% desse valor. O Sindipeças tem falado com o Banco Central e o BNDES para tentar suspender multas em casos desse tipo. "Não é responsabilidade nossa e de nossos clientes, pois trata-se de problema que atingiu o mundo todo", justifica Butori, que culpa a crise.
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