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O dólar congelado do Brasil

Alguns importadores fixam o câmbio de seus produtos para atrair consumidores e aguardar um cenário mais estável JOSÉ SERGIO OSSE VOCÊ ACOMPANHA O MOVIMENTO do dólar durante o dia e chega à inevitável conclusão: não é possível afirmar qual o valor da moeda. Mas, para um grupo de empresas, o dólar congelou. O caminho foi fixar o preço da moeda norte-americana e, com isso, atrair os consumidores com as vantagens que essa decisão gera para eles. Elas buscam também ganhar tempo até que o cenário se torne mais estável e claro. Algumas empresas, inclusive, operam com prejuízo - mas esse é o custo para evitar uma queda mais abrupta no movimento do caixa. É o caso da importadora de vinhos Mistral, que fixou o dólar em R$ 2,09. "Não dá para perder negócios. Por isso assumimos um prejuízo em nome dos clientes. Hoje eu pago R$ 2,30 no dólar para as compras de vinho, mas cobro menos do que isso", diz o proprietário da importadora, Ciro Lilla. O que mais o preocupa, porém, é a volatilidade do mercado. Isso, diz, afasta os clientes, que não compram, esperando um preço melhor. Outras empresas, como a montadora sul-coreana Hyundai, e a também importadora de bebidas Expand, fecharam importações consideráveis antes do estouro da crise financeira e, portanto, estão com estoques obtidos com uma cotação muito mais favorável do dólar. "Até iremos lançar campanha com esse mote, mostrando que os preços continuarão iguais até o fim do ano", diz o gerente de marketing da Expand, Rodrigo Landri. A empresa, afirma, vai manter os preços com base no câmbio de R$ 1,60 utilizado nas importações. A sorte, no caso deles, veio de um planejamento estratégico traçado para contornar um problema muito diferente. Eles anteciparam as compras para abastecer o mercado no Natal, receando que o governo elevasse os impostos sobre bebidas. Landri, porém, reconhece que, ao acabarem os produtos importados com cotação baixa, será necessário repassar os custos. "É uma promoção na linha 'Casas Bahia': apenas enquanto durarem os estoques", brinca ele. Algo semelhante ocorreu com os varejistas da região da rua 25 de Março, maior centro de comércio popular de São Paulo. Segundo Pierre Sarruf, diretor da Univinco, o sindicato dos lojistas da região, as mercadorias para o fim de ano foram compradas entre julho e agosto. Representando 70% dos produtos vendidos pelos varejistas, os importados foram obtidos com taxas de câmbio entre R$ 1,60 e R$ 1,70. "A turbulência não influenciou os preços dos produtos importados para o Natal. Mas, em caso de reposição de estoques, as compras serão feitas com base na cotação atual", diz. Com essa decisão, a Univinco espera crescimento de 10% nas vendas no período de fim de ano, ante as de 2007. As primeiras empresas a congelarem o dólar foram as fabricantes de celulares, em especial a finlandesa Nokia. A companhia fixou a taxa de câmbio em valores diferentes, caso a caso, com base em parâmetros como prazos de entrega, valores e volume do contrato. Segundo o vice-presidente da Samsung Brasil, José Roberto Ferraz de Campos, porém, as vendas para o fim do ano já haviam sido fechadas com o dólar em nível mais baixo. Por isso, os preços para o Natal devem ficar iguais. "O que vai acontecer é que, em dezembro, quando serão negociados os preços para janeiro, será necessário avaliar a nova posição do câmbio e definir se será necessário repassar para o preço final", explica ele. Há, ainda, as empresas que tentam manter, no mínimo, os preços de seus produtos, mesmo que para isso tenham que ajustar sua própria configuração para compensar o encarecimento do dólar. É o que revelou o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg, ao anúnciar os resultados do terceiro trimestre da companhia, maior fabricante de PCs do País. "Se um modelo de R$ 1.399 era bem vendido, e tinha monitor de 19 polegadas, agora ele passa a ter um monitor de 17 polegadas, para tentar manter o preço, ou subir R$ 100. É isso que a gente está tentando fazer", revela Rotenberg.
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